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Blog - Romeu di Sessa

  • Foto do escritorRomeu di Sessa

Porta de Natal

O Porta dos Fundos merece ir pro inferno mesmo.

O especial de natal deles é vergonhosamente desprovido de graça. E ainda com piadas do gênero: o escada diz: “eu pedi uma informação e ele deu” e o personagem viado responde “ah, eu dei mesmo, quando me pedem eu dou”. Faltou a claque pra pontuar a piada, caso o público não tenha entendido que era hora de rir. Mais pra frente tem a cena com “a piranha”. O escada levanta: “quer uma comida?”, a Piranha corta na hora “eu cobro adiantado, hein?”. Manoel da Nóbrega não deve se perdoar por ter deixado passar tanto talento assim.

O pessoal do Porta, incluindo o Porchat, beiram a perfeição quando fazem esquetes, mas Porchat escrevendo história é uma lástima, como já tinha provado no amador “A Guiana Sumiu”. A história desse especial de natal é pobre e bobona, perdida. Aí vai indo na festa surpresa e cai na alucinação de Jesus, onde ele encontra outros ícones de religiões. E essa é uma ótima ideia, rende coisas boas, especialmente com Buda. Mas se você notar bem, logo no começo vazou uma cena de um cu piscando. Você olha e se pergunta: o que é este cu? De quem é esse cu que pisca amedrontado? E logo vem a resposta: é o cu do Porchat! Que tava valente pacas, mandando lenha nos religiosos, mas quando chegou na vez de tirar um sarro dos muçulmanos... sobrou só o cu piscando e “Ala foi pra lá” e fim de papo. Melhor não mexer com esses caras, né?

Aí depois chega na cena que o viado amigo de Jesus era na verdade Lúcifer! E daí tem uma sequência inteira ornada com leds da Santa Ifigênia onde nem ao menos se tenta fazer piada, mas também não é drama. Tampouco aventura. É o Porchat brincando de fazer o que quiser. Enfim, o negócio é inteiro idiota, ainda que aqui e ali pinte uma piada boa. Esse lance de fazer piada com religião eles não fizeram porque era engraçado, mas só porque podiam. Afinal, são os Porta dos Fundos! Podem tudo. Mas esqueceram de fazer o que sabem.

Já o primeiro especial de natal que eles fizeram em 2013 é uma obra prima, humor refinadíssimo, inteligente, sagaz e na seara que eles manjam muito: várias esquetes, uma melhor que a outra, mas sem a pretensão de contar uma história. Aí não tem pra ninguém. Até porque nesse primeiro, fizeram piada, fizeram piada boa, fizeram piada com religião, mas não ofenderam nem desrespeitaram ninguém em hora nenhuma. Quer dizer, eles sabem fazer isso, mas dessa vez não quiseram fazer. Não precisa mais, já somos o Porta.

Eles merecem mesmo ir pro inferno. Mas não pela blasfêmia de fazer piada com religião, mas pela imperdoável heresia de fazer humor de merda.

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