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Blog - Romeu di Sessa

  • Foto do escritorRomeu di Sessa

Os 7 de Chicago

Há tempos aparecem pessoas da área falando sobre “dramaturgia moderna”. O último papo que tive (ou na verdade tentei ter) sobre isso, foi com uma moça, chamada Bea Goes, que tem um canal no Youtube chamado Narratologia, que por sinal é MUITO bom, dos melhores que já vi sobre roteiro, recomendo. Ela é muito preparada, muito estudiosa e muito simpática também. Eu não concordo com tudo o que ela fala, mas não tem nada que ela diga que não seja bem embasado, bem argumentado. A única exceção a isso é esse tema, a tal “dramaturgia moderna”.


Ela – como os outros com quem já conversei ou que apenas ouvi discorrerem sobre o tema - classificam dramaturgia moderna com definições muito vagas e equivocadas, como “ela não tem características próprias” ou “é uma dramaturgia que aborda temas sociais” ou a mais tísica das definições, quase uma confissão de culpa: “é toda a dramaturgia que não for clássica”.


Essa ideia de que “moderno é tudo que não é clássico” é difícil se levar à sério, mesmo quando é dito por alguém que eu respeito, como é o caso dessa moça e de outras pessoas também.


Por enquanto pra mim está “em estudos” se existe mesmo a tal da dramaturgia moderna. Também por enquanto pra mim existem só dois tipos de dramaturgia:


A (vamos chamar de) clássica (eu chamo só de “dramaturgia” mesmo), que em rápido resumo, é a trajetória do herói, que define um arco de um personagem e em três atos, bla bla bla (quem não souber e quiser saber mais sobre isso, faça meu curso... :) ) Os exemplos são infinitos, não vou dar nenhum.


E tem também o que eu chamo de dramaturgia autoral, que é quando um roteirista conta sua história do jeito que bem entende, e cada um conta do seu jeito. Tarantino, por exemplo. Mas nada une os roteiristas autorais, a ponto de se poder identificar uma tendência, ou uma escola, a não ser pelo mero e gasoso “não é clássica”.


Aliás, rejeito esse conceito inclusive para proteger autores como o Tarantino, porque se bastar não ser clássico para ser moderno, tanto Tarantino quanto um incompetente que não sabe o que está fazendo estarão na mesma cesta.


Só que tem outra coisa, que eu acho que é aí onde as pessoas se confundem. Que é o fato da dramaturgia dita clássica poder ser tratada de inúmeras formas diferentes, que vai desde a mais convencional e esquemática, até a mais sofisticada.


Se quiser exemplo de dramaturgia clássica tratada de um jeito convencional, pense em qualquer filmeco americano.


Agora, quando se fala em dramaturgia clássica levada de um jeito sofisticado, arrojado, extravagante e audacioso, pense primeiramente em um nome: Aaron Sorkin.


Este filho da puta faz o que ele quiser com uma história. Ele tem um domínio tão estupendo e completo do seu ofício, que consegue estabelecer novos paradigmas (ou na verdade novos patamares), sem quebrar paradigma algum já estabelecido. Ele esbanja modernidade não por ser disruptivo ou revolucionário, mas por ter uma destreza tão inigualável, quanto surpreendente, quanto inédita.


Considero Sorkin o maior roteirista de todos os tempos e se eu tinha ainda alguma timidez pra declarar isso em público, ela se encerrou no 7 de Chicago.


Até teria um monte coisas pra comentar sobre o filme, mas dessa vez preferi falar do autor. Depois de ter visto este filme, vou aumentar o tamanho da letra do último slide que projeto no meu curso, que diz:


Liberte-se!

Rompa com paradigmas!

Quebre barreiras!

Revolucione o quanto quiser!


Mas ANTES de revolucionar, coma o clássico com farinha.

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