top of page

Blog - Romeu di Sessa

  • Foto do escritorRomeu di Sessa

Era uma vez em Hollywood.

Como já informei, num serviço de utilidade pública, o filme é chato até o cu fazer bico.

A estrutura dele lembra muito a das pornochanchadas, porque são cenas avulsas, com alguma tímida conexão entre elas, que se esticam até o infinito e além, numa história que, com boa vontade, daria um curta. A diferença é que as nossas pornochanchadas eram forradas de cenas inúteis e longas de moças tomando banho ou cenas de sexo e no filme do Tarantino a gratuidade e a longevidade aparecem em cenas com gente dirigindo carro e ouvindo música, por grandes trechos e muitas vezes, sem sentido algum em nenhuma delas. Preferia ver a Nicole Puzzi tomando banho.

Tem também uma certa canalhice de usar a história da Sharon Tate, de forma tão gratuita, numa espécie de marketing-tétrico-enganoso. A personagem da Sharon está lá apenas para criar no público cativo e sádico do diretor a esperança de ver uma cena horrenda de uma grávida sendo brutalmente assassinada. Com o atenuante dele não ter colocado a cena. De fato, a "trama" (nem chega a ser uma) dela não faz diferença alguma na trama principal, nem ao menos compõe uma subtrama. A ligação desta trama com a dos outros personagens da história se dá de forma extra-diegética, uma conexão que existe APENAS pelo conhecimento prévio de parte do público sobre o caso da atriz, quem não veio de casa já sabendo o que aconteceu com Sharon Tate não tem como explicar por que aquela personagem faz parte da história. Achei mesquinho se valer de uma tragédia humana real de maneira tão irresponsável e banal.

Sem contar as telegrafadas homéricas que tem no filme. A principal: "por que será que um personagem que mora num trailer tem um Pit Bull, num filme do Tarantino? Será que o cachorro vai destroçar alguém até o fim do filme?!"

Pra mim o que motivou o filme não foi uma história a ser contada, porque esta pouco existe. O que motivou foi a vontade do autor de filmar cenas de época do final dos anos 60 e também cenas de western, inclusive os espaguetes. É quase um exercício de direção, montado como se fosse um filme. O resultado é óbvio: só quem se diverte é o diretor e talvez os atores. O público é meramente "permitido" a ver o exercício. Pra mim isto é pouco motivo pra pagar um ingresso. Ainda mais porque nem ao menos tem a Nicole Puzzi.

E claro, o filme converge forçosamente pra aquilo que mais excita o diretor: cenas de ultra-violência, daquelas que podiam compor os filmes que o personagem de Malcolm McDowell no Laranja Mecânica era obrigado a ver, durante seu tratamento. Sem essas cenas no final, nem ao menos o público cativo e sádico do diretor gostaria deste que é, de longe, seu pior filme, já que este não tem nem ao menos o esplendor estético do Kill Bill, nem a boa construção de personagem do Bastardos Inglória, nem ao menos a estranheza tensa do Cães de Aluguel.

E aí outra semelhança com as pornochanchadas: tanto lá, com o banho das atrizes, como cá, com as cenas de violência, os produtores e diretores faziam filmes porque queriam ver as cenas que neles apareceriam. É punhetação pura em todos os casos.

OK, Brad Pitt e (principalmente) Leonardo di Caprio mandam bem, a reconstituição de época é ótimo, é bem fotografado, mas eu, por questões que me são óbvias, não saio de casa pra ver projeção de slide, mas sim pra ver história. Quanto mais velho fico, mais é SÓ ISSO o que me interessa num filme: história. (a menos que tenha a Nicole Puzzi tomando banho. Aí foda-se a história.)

O filme tem três coisas muito boas.

Péra, antes!! A PIOR coisa deste filme, que é a cena do Bruce Lee, uma encenação que parece de escola de atores iniciantes, e só com os piores da turma. Chega a dar vergonha.

Duas das coisas boas são duas atrizes, uma a menina que faz a atriz mirim pernóstica, que, com a pouca idade que tem, entendeu tudo o que o personagem precisava e entregou tudo o que devia.

A outra atriz é a que faz a hippie caroneira. Primeiro porque ela tem um physique du rôle perfeito, é uma viagem no tempo ver aquela menina, não só pelo corpo (incluso os pelos do sovaco), mas principalmente pela atitude. Ela deve ter feito uma pesquisa muito boa pra entrar tão perfeitamente no jeitão daquela personagem de época.

E a terceira coisa boa que tem no filme é que ele acaba. Demora pra caralho, mas uma hora acaba.

3 visualizações0 comentário

Posts recentes

Ver tudo

Os 7 de Chicago

Há tempos aparecem pessoas da área falando sobre “dramaturgia moderna”. O último papo que tive (ou na verdade tentei ter) sobre isso, foi com uma moça, chamada Bea Goes, que tem um canal no Youtube ch

Bacurau

Eis uma lenda que eu inventei de como foi criado o roteiro de Bacurau. Era meados dos anos 80. Num D.A. de alguma faculdade pública vários jovens estavam fazendo conjecturas sobre o perverso mundo em

bottom of page