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Blog - Romeu di Sessa

  • Foto do escritorRomeu di Sessa

Chernobyl

É um trabalho de fôlego, padrão HBO, muito tenso e intenso. É arrepiante ver o que estava acontecendo naquela cidade soviética naquele momento, e pior, o que PODERIA ter acontecido.

Um drama humano, num roteiro que tem um obstáculo enorme intrínseco ao tema, que é fazer o público entender a complexidade de uma usina atômica. Na maioria das vezes o roteiro vence com louvor esse obstáculo.

Na medida certa, a série coloca o autoritarismo daquele governo como um vilão mais difícil de vencer do que a radiação emanada pelo núcleo exposto. Várias tramas perpassam a situação, todas muito bem amarradas entre si, todas tendo, simultaneamente, esses dois vilões: a radiação incontrolável e um estado até bem empenhado em resolver o problema, mas à sua maneira, uma maneira que resulta em, até hoje, no reconhecimento oficial de apenas 51 mortes causadas pela imprudência, somada às falhas técnicas do projeto.

Chama atenção a ausência de atores famosos, substituídos por ótimo e desconhecido casting.

Tem diálogos muito bons, várias cenas impactantes, sendo que uma delas certamente vou levar pro meu curso. Falo da cena de abertura do quarto episódio. O que o roteirista precisava naquele momento era relembrar ao público o "tamanho da encrenca" que a explosão daquela usina representava. Ele poderia ter escapado fácil disso, usando algum clichê válido, como por exemplo, trechos de noticiários internacionais divulgando o ocorrido. Mas não. Ele se exigiu mais. E achou um jeito bem mais perfeito, impactante e "explícito" de mostrar a dimensão do fato: colocou uma senhora de mais de 80 anos ordenhando sua vaca no celeiro da sua casa. Atrás dela um soldado do Exército Vermelho tentando de todas as maneiras convencê-la de abandonar a casa, por conta da radiação. A velha firme, impávida, inarredável e destemida conta ao jovem soldado sua história, que começa com os Czares já querendo expulsá-la de lá e não conseguiram, depois os bolcheviques tentaram, também sem sucesso, depois por duas guerras mundiais vieram soldadinhos iguais a ele e também não a retiraram. Ela já passou por tudo isso e não vai sair da sua casa. Nesse instante o soldado saca a sua arma, ordena que ela saia, ela continua impávida, e o soldado atira, acertando o animal, que num som forte cai no chão. A velha entende que a gravidade da situação é maior do que outras que ela já viveu. E o público também. Isto é aula de roteiro. E vai entrar no meu curso na parte em que digo: nunca se conforme com sua primeira ideia, porque sempre existe um outro jeito, novo e criativo, de mostrar o que precisa ser mostrado. E este é um excelente exemplo disso.

Ah! Nem vemos se a velha saiu ou não. Isto não importa, o que importava era a informação. (mas que ela saiu sim... :) )

Ótima série, vale ser vista, desde que você não se incomode em ficar meio tenso...

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